Um novo relatório detalha os investimentos e obras de “caridade” de ex-executivos da FTX. Entre canal YouTube, encomenda de livros e casa para venda, alguns deles estão longe do domínio das criptomoedas… E teriam sido feitos com os fundos dos clientes da plataforma de câmbio.
Investimentos estranhos na FTX
A autópsia da plataforma FTX continua sob a direção do novo CEO temporário John Ray III. Estão a ser publicados relatórios regulares e muitos casos de má gestão estão gradualmente a vir à luz. Ontem, um novo documento revelou a extensão dos investimentos “caritativos” do império FTX e a forma como os fundos dos clientes foram alegadamente utilizados.
Sam Bankman-Fried tornou-se conhecido como um diretor executivo bilionário com uma tendência especial para o trabalho de caridade. Sabemos agora que se tratava “apenas de uma fachada”, segundo o próprio Bankman-Fried. Alguns dos investimentos da empresa são a prova disso
Os subsídios da FTX foram de facto distribuídos a projectos estranhos, e longe do sector das criptomoedas. Por exemplo, 400.000 dólares foram alegadamente dirigidos a “uma entidade que publicou vídeos animados no YouTube, sobre o tema do racionalismo e do altruísmo efetivo”. Outro criador de conteúdos também recebeu 300 mil dólares para escrever um livro sobre “como encontrar a função útil dos humanos”. Noutro “investimento”, os fundos da FTX (e os dos clientes, segundo as acusações) foram utilizados para comprar uma casa nas Bahamas, avaliada em 1,8 milhões de dólares.
Fundos mistos e ligações entrelaçadas
A autópsia da nebulosa FTX revela não só investimentos estranhos, mas também ligações particularmente intrincadas entre empresas e entidades. No gráfico seguinte, podemos ver que os fundos dos clientes depositados na plataforma da bolsa foram utilizados para financiar uma variedade de entidades, todas elas ligadas entre si:
um fluxograma de um processo de falência da FTX, mostrando fundos misturados pic.twitter.com/bpA5jPv88t
– Molly White (@molly0xFFF) 27 de junho de 2023
O caso FTX é, portanto, particularmente abrangente e o julgamento que se avizinha será, sem dúvida, complexo. A mistura de fundos de clientes com os fundos próprios da empresa é particularmente problemática e mostra a impunidade com que os directores da plataforma operavam antes do seu colapso. Como salienta John Ray III, havia um enorme fosso entre a perceção da FTX e a realidade:
A imagem que o Grupo FTX procurava projetar como um líder da era digital centrado no cliente era uma miragem. Desde a sua criação, o Grupo FTX misturou depósitos de clientes com fundos da empresa e utilizou-os indevidamente, por ordem dos seus antigos executivos. “
Esta é também uma questão particularmente atual. Desde a queda da FTX, a desconfiança reina no que respeita às plataformas de câmbio. A Binance, por exemplo, foi acusada em maio passado de misturar milhares de milhões de fundos de clientes com as suas próprias receitas. Por conseguinte, devemos continuar a assistir a um controlo particularmente rigoroso dos fundos das plataformas de troca de criptomoedas.
